segunda-feira, 29 de setembro de 2008

João das Neves


João das Neves (Rio de Janeiro RJ 1935). Diretor e autor. Durante doze anos cria espetáculos para o Grupo Opinião, um dos principais focos de resistência político-cultural das décadas de 1960 e 1970, onde escreve e monta O Último Carro, metáfora do Brasil em um trem desgovernado. João das Neves viaja para a Alemanha, onde desenvolve projetos ligados a peças radiofônicas e novos formatos dramatúrgicos. Já no Brasil, após uma ampla pesquisa junto a populações carentes reúne o material e dá-lhe forma cênica, em Mural Mulher, em 1979. As atividades tornam-se, nos anos seguintes, cada vez mais esporádicas. O diretor, último remanescente dos fundadores do Opinião, desfaz-se do teatro em 1983.

Biografia:
Começa a carreira profissional no Opinião, grupo focado no teatro de protesto, de resistência, e, também, centro de estudos e difusão da dramaturgia nacional e popular. Afinado com as propostas artísticas e ideológicas desse grupo, o diretor privilegia a montagem de textos, tanto nacionais quanto estrangeiros, que sirvam de enfoque para a situação política do Brasil nos anos da ditadura militar, tais como: A Saída, Onde Fica a Saída?, 1967, de Armando Costa, Antônio Carlos Fontoura e Ferreira Gullar, Jornada de Um Imbecil até o Entendimento, 1968, de Plínio Marcos, Antígone, 1969, de Sófocles, numa tradução de Ferreira Gullar, A Ponte sobre o Pântano, 1971, de Aldomar Conrado e O Homem É Um Homem, de Bertolt Brecht, tradução de Aldomar Conrado. Seu primeiro texto, O Último Carro, de 1976, montado pelo Grupo Opinião, fica quatorze meses em cartaz no Rio de Janeiro, e posteriormente, vai para São Paulo.
João das Neves viaja para a Alemanha, onde desenvolve projetos ligados a peças radiofônicas e novos formatos dramatúrgicos. Já no Brasil, após uma ampla pesquisa junto a populações carentes reúne o material e dá-lhe forma cênica, em Mural Mulher, em 1979. As atividades tornam-se, nos anos seguintes, cada vez mais esporádicas. O diretor, último remanescente dos fundadores do Opinião, desfaz-se do teatro em 1983.

Espetáculos

1964 - Rio de Janeiro RJ - Opinião
1965 - Rio de Janeiro RJ - Liberdade, Liberdade
1966 - Rio de Janeiro RJ - Se Correr o Bicho Pega, Se Ficar o Bicho Come
1966 - Rio de Janeiro RJ - Show Telecoteco Opus n. 1
1966 - São Paulo SP - Se Correr o Bicho Pega, Se Ficar o Bicho Come
1967 - Rio de Janeiro RJ - O Inspetor Geral
1967 - Rio de Janeiro RJ - A Saída, Onde Fica a Saída?
1967 - Rio de Janeiro RJ - Meia Volta, Vou Ver
1968 - Rio de Janeiro RJ - Jornada de um Imbecil até o Entendimento
1968 - Rio de Janeiro RJ - O Inspetor Geral
1968 - Rio de Janeiro RJ - Esquerda, Vou Ver
1968 - Rio de Janeiro RJ - Dr. Getúlio, Sua Vida e Sua Obra
1969 - Rio de Janeiro RJ - Dura Lex Sed Lex
1969 - Rio de Janeiro RJ - Antígone
1972 - Rio de Janeiro RJ - Bordel da Salvação: o Refém
1973 - Rio de Janeiro RJ - A Ponte sobre o Pântano
1976 - Rio de Janeiro RJ - O Último Carro
1976 - São Paulo SP - O Último Carro
1977 - Rio de Janeiro RJ - Dois Perdidos Numa Noite Suja
1979 - Rio de Janeiro RJ - Mural Mulher
1980 - Rio de Janeiro RJ - Café da Manhã

O Início


Grupo carioca que centraliza, nos anos 1960, o teatro de protesto e de resistência, núcleo de estudos e difusão da dramaturgia nacional e popular.Imediatamente após o golpe militar de 1964, um grupo de artistas ligados ao Centro Popular de Cultura da UNE - CPC (posto na ilegalidade) reúne-se com o intuito de criar um foco de resistência à situação. É então produzido o show musical Opinião, com Zé Kéti, João do Vale e Nara Leão (depois substituída por Maria Bethânia), cabendo a direção a Augusto Boal, do Teatro de Arena paulistano. A iniciativa conhece o sucesso instantâneo, que contagia diversos outros setores artísticos (uma exposição de artes plásticas no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro - MAM/RJ, denominada Opinião 65, surge em decorrência), e aglutina artistas dispersos ligados aos movimentos de arte popular. O show se apresenta no Rio de Janeiro, estreando em 11 de dezembro de 1964, e marca o nascimento do grupo, que virá a se chamar Opinião.
Desde sua fundação, o Opinião privilegia a arte popular e abre espaço para shows com compositores das escolas de samba cariocas, influindo não apenas na a mudança de gosto do público como, facilitando a disseminação da cultura periférica nos grandes centros de divulgação cultural. Assembléias, reuniões e demais manifestações de protesto da categoria teatral faziam do Opinião seu epicentro, nos primeiros anos após o golpe militar.
Em seus melhores momentos, o Opinião não apenas centraliza a generalizada indignação da classe artística contra a Censura e a ditadura mas também luta, com os meios disponíveis, para implantar uma nova consciência cênica brasileira, apoiando a dramaturgia que enfoca as classes populares e suas condições de existência.